sábado, 14 de abril de 2012

Contribuições das Abordagens Biográficas na formação de professores


                  No dia 11/04/2012 tivemos mais um encontro de formação em Arte/Música para professores da Rede de Ensino Municipal de Sinop. Foram 60 profissionais se qualificando em duas áreas: Música e Artes Visuais. Contamos, na área de Artes Visuais, com o Prof. Edson Aguiar que desenvolveu uma técnica de sombras para desenhos. Na área de Música, a Profa. Mestranda Débora Vasconcelos optou por trabalhar com uma canção cuja temática remete a data comemorativa "Dia da mães". A música intitulada "Mamãe, amor perfeito!" é de Alexandre Reichert Filho e letra de Mário Jorge Lima. A partir dessa canção surgiram várias ideias para esse fazer musical na escola. Essas ideias foram compartilhadas entre todos os presentes.
                   Em seguida apresentei, em forma de comunicação, um breve texto sobre a abordagem biográfica e sua contribuição na formação e profissionalização de professores. Após, os professores escreveram uma breve narrativa de si  com enfoque para as vivências musicais realizadas ao longo da vida . Depois, os professores foram convidados a partilharem uma dessas vivências com o grupo presente.
                  A seguir, faço um recorte de textos de autores da área de (auto)biografia utilizados, por mim,  em um artigo submetido a publicação na revista OPUS n. 17. O texto transcrito abaixo foi trabalhado nesse encontro de professores, e a partir disso adotamos essa metodologia para nortear os caminhos que seguiremos para os próximos encontros.

Abordagem Biográfica


Na área educacional a pesquisa biográfica é fundada na relação entre formação e aprendizagem. Trata-se de compreender como se forma e se constrói o ser individual. Cada ser carrega em sua trajetória de vida instituições educacionais de ambientes específicos, caminhos e dispositivos, papéis e relações sociais. Há, no entanto, um mundo da educação que está em relação contínua com os outros setores da vida social, mas, ainda assim, há um espaço singular das experiências vividas (DELORY-MOMBERGER, 2011).
A abordagem biográfica, segundo Josso (2006), dá legitimidade à mobilização da subjetividade como produção do saber ser. A reflexão biográfica permite explorar em cada um de nós a manifestação daquilo que somos e daquilo que nos tornamos. O biográfico, como disse Pineau (2008, p.20-21), nos ensina o saber da vida. Esse saber da vida é “o gaio saber, a gaia ciência, o encantamento cognitivo, que resulta do encontro incandescente da chama da vida com a teoria”, do encontro da subjetividade com a objetividade, do saber ser com o saber fazer.
O entendimento construído por Josso (2004) e Dominicé (1995) sobre a abordagem biográfica como um processo de investigação/formação nasce das experiências desenvolvidas na Universidade de Genebra, através das aprendizagens significativas e formativas que são construídas, nos seus diferentes momentos, pelos sujeitos que participaram e participam do seminário História de Vida em Formação. Essa perspectiva de trabalho, centrada na história de vida de professores, configura-se como investigação porque se vincula à produção de conhecimentos experienciais dos sujeitos adultos em formação. Josso (1991) entende que é formação porque parte do princípio de que o sujeito toma consciência de si e de suas aprendizagens experienciais quando vive, simultaneamente, os papéis de ator e investigador da sua própria história.

Para uma melhor compreensão e desdobramento da abordagem biográfica proposta por Dominicé (1990), é preciso ir além do sentido etimológico da palavra biográfico. Segundo Delory-Momberger (2008), o espaço-tempo no qual concebemos nossa existência é construído com base naquilo que apreendemos em nossas vidas. A autora entende que jamais atingimos diretamente o vivido, exceto pela mediação das histórias narradas, pois, quando queremos nos apropriar de nossa vida, nós a narramos. Para a autora, o único meio de termos acesso à nossa vida é percebermos o que vivemos por intermédio da escrita, isto é, só vivemos nossa vida escrevendo-a na linguagem das histórias.

Referência Bibliográfica

DELORY-MOMBERGER, Christine. Os desafios da pesquisa biográfica em educação. In: SOUZA, Elizeu C. (Org.) Memória, (auto) biografia e diversidade: questões de métodos e trabalho docente. Salvador: EDUFBA, 2011, p. 43-58.
_______. Biografia e educação: figuras do indivíduo-projeto. Tradução de Maria da Conceição Passeggi, João Gomes da Silva Neto, Luis Passeggi. Natal, RN: EDUFRN. São Paulo: Paulus, 2008.

DOMINICÉ, Pierre. La formation comme régime nocturne: raison narrative et formation. Education permanente, Paris, n. 122,1995, p. 179-189.
­­______. L’ histoire de vie comme processus de formation. Paris: L’ Harmattan,1990.

JOSSO, Marie-Christine. As figuras de ligação nos relatos de formação: ligações formadoras, deformadoras e transformadoras. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.2, p. 373-383, maio/ago, 2006.
________. Experiências de vida e formação. Lisboa: EDUCA, 2004.
________. Cheminer vers soi. Suiça: L’Age D’Homme, 1991.

PINEAU, Gastón. O gaio saber do amor à vida. In: SOUZA, Elizeu, C. e MIGNOT, Ana C. V. PACHECO, Dirceu C. [et al.] (Orgs.) Histórias de vida e formação de professores. Rio de Janeiro: Quartet: FAPERJ, 2008. p. 17-38.